O Brasil, com uma das maiores malhas rodoviárias do mundo, enfrenta um desafio que há décadas compromete sua eficiência logística e econômica: o estado precário das estradas.
De acordo com a 27ª pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), a má conservação das rodovias gerou um custo adicional de R$ 6,81 bilhões ao setor de transporte apenas em consumo extra de combustível. Essa despesa, por sua vez, recai sobre transportadoras e consumidores, impactando negativamente a economia do país.
A extensão do problema: rodovias em péssimo estado
A CNT analisou 111.853 km de rodovias e constatou que a má qualidade das vias tem consequências desastrosas. Buracos, falta de sinalização e pavimento deteriorado aumentam o consumo de combustível, elevam os custos de manutenção dos veículos e, em muitos casos, provocam danos irreparáveis às cargas transportadas.
Os transportadores, que já enfrentam margens de lucro apertadas, são obrigados a lidar com despesas adicionais. Para as empresas que dependem da logística rodoviária, esses custos são repassados aos preços finais, penalizando consumidores em um país já marcado por altos índices de inflação.
Impactos econômicos e ambientais das estradas precárias
1. Consumo excessivo de combustível
A pesquisa revelou que o mau estado das estradas gerou um consumo adicional de 3,13 milhões de toneladas de óleo diesel em 2024. Esse volume não apenas representa um impacto financeiro significativo, mas também contribui para o aumento da emissão de gases de efeito estufa, com consequências graves para o meio ambiente.
2. Aumento nos custos de manutenção
Os veículos que trafegam por rodovias mal conservadas sofrem desgaste acelerado em componentes como pneus, suspensão e freios. Para transportadoras, isso significa gastos frequentes com reparos, substituição de peças e, em casos extremos, a necessidade de renovar a frota mais cedo do que o planejado.
3. Perdas de carga
Além dos danos aos veículos, o transporte em estradas precárias aumenta o risco de perdas parciais ou totais de carga devido a acidentes causados por buracos, má sinalização ou outros problemas estruturais das vias.
4. Ineficiência logística
Rodovias em más condições também tornam as viagens mais longas, reduzindo a produtividade dos motoristas e aumentando os custos operacionais, como pagamento de horas extras e desgaste físico dos profissionais.
Possíveis soluções para o problema
Investimento em infraestrutura rodoviária
A CNT sugere que o valor de R$ 6,81 bilhões, perdido anualmente devido ao estado das rodovias, poderia ser investido em manutenção e modernização da malha viária. Isso incluiria não apenas o reparo de estradas deterioradas, mas também a construção de vias mais eficientes e seguras.
Adoção de transporte mais sustentável
Com o aumento da pressão por práticas ambientalmente responsáveis, transportadoras e clientes estão buscando alternativas para reduzir a pegada de carbono. Contudo, esse esforço esbarra nas condições das rodovias, que aumentam o consumo de combustíveis fósseis.
Iniciativas como a eletrificação de frotas e o uso de combustíveis renováveis podem contribuir para um transporte mais limpo, mas sua eficácia depende de uma infraestrutura rodoviária adequada.
Parcerias público-privadas
Para acelerar o processo de recuperação das estradas, especialistas defendem a ampliação de parcerias público-privadas (PPPs). Esse modelo permite que empresas invistam na construção e manutenção de rodovias, enquanto o governo regula e supervisiona os contratos.
Foco na eficiência energética
Investir em vias que favoreçam a eficiência energética do transporte também é essencial. Estradas bem pavimentadas, por exemplo, reduzem o consumo de combustível e, consequentemente, as emissões de poluentes.
Programas de reflorestamento e descarbonização
A CNT reforça a importância de iniciativas complementares, como programas de reflorestamento, que ajudam a compensar as emissões de gases de efeito estufa geradas pelo transporte rodoviário. Além disso, o incentivo ao uso de fontes de energia renováveis pode tornar o setor mais sustentável a longo prazo.
O papel do consumidor e da sociedade
Embora grande parte da responsabilidade recaia sobre o poder público e as empresas do setor, os consumidores também desempenham um papel crucial. Demandar melhores condições das rodovias, por meio de pressão política e participação em discussões públicas, é essencial para impulsionar mudanças significativas.
A conscientização sobre o impacto das estradas precárias no custo dos produtos e na qualidade de vida é o primeiro passo para mobilizar esforços em prol de uma infraestrutura rodoviária eficiente e sustentável.
Conclusão
As condições das rodovias brasileiras representam um entrave significativo para o desenvolvimento econômico e ambiental do país. O desperdício de quase R$ 7 bilhões por ano em custos adicionais de transporte é uma realidade que precisa ser combatida com urgência.
Investir em infraestrutura de qualidade, promover parcerias público-privadas e adotar soluções sustentáveis são ações indispensáveis para reverter esse cenário. Somente assim o Brasil poderá alcançar um transporte mais eficiente, econômico e alinhado às demandas ambientais do século XXI.